
Chiquitita
Foi durante esses dois anos que trabalhei no CCZ que eu comecei a me dedicar mais na escrita. Comecei a escrever poesias e um romance. O livro era sobre cachorros. Intitulava-se A Utopia Canina. Contava a história de um cão chamado Binho que tomou consciência e partiu mundo a fora com um amigo poeta para fazer a revolução. A intenção era juntar o máximo de cachorros e lutar pela libertação de todos os animais da opressão dos seres humanos. Binho consegue fazer a revolução em dois países, mas morre quando está voltando para o Brasil.
Esse foi o chute inicial na escrita de romances e também foi nele que eu pendurei as chuteiras. Tenho bastante dificuldades em me dedicar na escrita de um livro inteiro, então fiquei nas crônicas, contos e poesias.
Aí vai algumas poesias que eu escrevi sobre cachorros:
UM CÃO NA MESA DE EUTANÁSIA
Curtindo meu passeio matinal
No bairro onde moro há mais de um ano
Foi que eu me encontrei com o homem mal
Três uniformizados me cercando
Dentro da carrocinha fui lembrando
Da liberdade à qual eu desfrutava
Meu dono à distancia me chamando
E eu pensava que ele me amava
Três dias sem visitas, no canil
Agora sim eu sei o que é a “raiva”
Peço a atenção dos cães do meu Brasil
Da pátria varonil, idolatrada
Lutem pela sua liberdade
Que na mesa de eutanásia é muito tarde
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ANTEPENÚLTIMO PENSAMENTO DE UM CÃO NA MESA DE EUTANÁSIA
Na mesa prateada me deitaram
Preparam o meu corpo para o fim
Ouvia vagamente o que falavam
Mas, sem certeza se era de mim
Enquanto as mãos preparam a vacina
Em minha mente nasce a indagação:
O que é pior para a raça canina?
A eutanásia, ou a castração?
O último dia, a última ração
O último abraço eu já não lembro mais
Saudade dos irmãos dessa nação
Saudade do meu dono e dos meus pais
A agulha perfurou a carne magra
Um cão falou pra mim pra eu ser forte
Quase sem vida a minha mente indaga:
Quem disse que aqui não tem pena de morte?
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PENÚLTIMO PENSAMENTO DE UM CÃO NA MESA DE EUTANÁSIA
Cão que late morde
Os lábios com vontade de morder
O inimigo que passa em nossa rua
Mas, o ditado não nos deixa fazer
Cão que morde vai preso pro canil
Meus amigos, daqui nunca voltaram
Cão é cão em qualquer lugar
Pra onde vou? Nunca me contaram
Meus pensamentos hoje estão soltos
Correm o mundo inteiro e me trazem
Contos sinistros, histórias inacabadas
Temas, tramas, traumas, transes
Porque ó Deus canino, a morte?
Porque tudo tem que ter final?
Porque me criaste magro e manso
E ainda por cima irracional?
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ÚLTIMO PENSAMENTO DE UM CÃO NA MESA DE EUTANÁSIA
Cachorro dado não se olha os dentes
Quando o cão late a carrocinha para
Cão escaldado de água quente
Quando vê a fria ele dispara
Cada cachorro fica no seu galho
Mas, um cão sozinho não faz verão
Cachorro esperto não se diz malandro
Nem fica por aí pagando cão
Matam dois cachorros numa só paulada
Acordam de manhã quando o cão canta
Cachorro que dorme muito vira bolsa
Nesse formigueiro só colhe quem planta
Mas, tem muito cão em pele de cordeiro
Que só fazem peso nessa colméia
Sempre põe o carro na frente dos cães
Só querem poder, conforto, “cadelas”
De que me valeu meu osso diário
Se estou a segundos do bisturi?
Tão pequenininho, sozinho, na mão
Sempre sonhei grande, hoje tô aqui
O líquido percorreu toda minha veia
E a última injeção foi no coração
Fazendo eu me despedir dessa triste aldeia
E dar o meu adeus pra esse mundo cão.
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UNI-VOS
Clamo aos ventos que levam
meus sonhos para outros cantos
os ventos não me sossegam
levam sonhos, trazem cantos
cantigas, versos tristonhos
ei!!! ventos de meu país
traga de novo meus sonhos
me torne um cão mais feliz
balance o verde das folhas
sopre forte por aqui
me deixe várias escolhas
e não me deixes cair
pergunto aos cães que aqui passam
porque olhar para o chão
pois, os seres humanos caçam
é esse tipo de cão
vi o zéfiro soprar vozes
arrastando verdes ramos
vi sorrir nossos algozes
toda vez que nós erramos
e os cães não dizem nada
ninguém diz nada de novo
nossa pátria é tão amada
mas, o cão não quer ser povo.
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LIVRE
Corre cachorro, corre
Corre que o mundão é nosso
Corre para a liberdade
Desenterre os seus ossos
Corre, que o tempo corre
Corre que ele não perdoa
Corre atrás de seu perdão
Corre atrás de sua coroa
Corre assim como o vento
Corre o mundo inteiro e volta
Corre com toda a sua ira
Seu protesto, sua revolta
Corre para ser livre
Corre... Corre da carrocinha
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À NOITE NO BECO
Ó turvas ruínas dos becos noturnos
Onde a arte rasteja, sobrevive a tudo
Nuvens de luto trazem risos soturnos
Molham meu pensamento tão carrancudo
Noite fria, ao relento, o coração troca o turno
Com a lua dourada, acesa pro mundo
Enfeitiça meus olhos, sossego e não durmo
Nesse beco escuro sou um cão vagabundo
Filho do vento, da rua oriundo
Às vezes, ninguém, só mais um dito cujo
Nas asas do mundo até me confundo
Com um pobre mendigo, bêbado e sujo
Mas, faço meus versos, pra tocar bem fundo
Nunca me acovardo, não finjo e não fujo
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CACHORRO DE RUA
O cachorro
Soltou-se da corrente
E corre contente
Rasgando sacos de lixo
Se alimenta de restos
Mas à noite faz preces
Uivando pra lua.
O cachorro na rua
Persegue os carros
Late e tira sarro
De todos que passam.
O cachorro de rua
Ama a liberdade
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Dias de Cão
Eu estava descendo a rua
Caminhando ligeirão
Um cachorro me viu
Veio correndo e rosnando
Se preparando para latir
Eu indignado
Enforcadão nos meus problemas
Rosnei mais alto ainda
Ele desistiu de latir
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