
Meu irmão de rua, Wesley – conhecido nas comunidades do Rio de Janeiro como DelírioBlack – inspirou um dos textos mais tristes que eu já li. O texto intitulado Cemitério de Elefantes foi escrito pelo poeta Deley de Acari. Deley é um comunista que dedicou toda a sua vida à militância e que já foi torturado, ameaçado de morte, já sofreu atentados, e continua sofrendo com a dor de cada favelado oprimido pelo sistema capitalista. O texto nasceu depois de uma discussão sobre a forma de conduzir os trabalhos na favela. Wesley lançou a idéia de que depois de mais de 30 anos de militância por parte de Deley, nada melhorou na comunidade. O texto foi batizado de Cemitério de Elefantes por causa de um cantinho da favela que possuía um banco e um muro, onde os velhos comunistas de Acari se reuniam para chorar as pitangas soviéticas.
Os Elefantes, quando sentem os primeiros sintomas da morte, migram sozinhos para o Cemitério. O termo virou gíria entre os militantes e quando algum amigo está mal, na fossa, dizemos que ele está no cemitério de elefantes.
Recentemente finalizei, com meu irmão de rua Danilo Georges, o documentário As Muitas Faces de Uma Cidade. Não sabíamos que o trabalho seria tão árduo e terminaria só depois de quase dois anos de seu início. Renderizamos o filme na casa do nosso amigo Bob, que trabalhou com os efeitos visuais e pós-produção, e fomos até meu barraco no Cidade Nova para assistir. Após assistirmos o filme, o parceiro Danilo me perguntou algo assim:
“E aí, o que você acha? O documentário vai incomodar muito a elite, vai bater de frente com os poderosos? Vai mexer na água parada dessa cidade?”.
Quando estive no Rio de Janeiro, aprendi com um amigo arteiro, Eduardo Marinho, a não criar expectativas sobre as coisas. Continuo fazendo os trabalhos pela necessidade de lutar por um mundo justo, mas sem criar expectativas, para não sofrer com as frustrações. Eu que já estou a algum tempo no cemitério de elefantes respondi pro Danilo que o documentário será só uma mordidinha de formiga nos pés da elite. E ainda emendei que todas as nossas intervenções, músicas, documentários, grafites, atos, protestos, manifestações, eventos, textos escritos pro fanzine e publicados nos blogs, são só mordidinhas de formiga nos pés do sistema. Não recordo bem quais foram as suas palavras, mas acho que ele disse: pode até ser, mas enquanto fomos formigas não podemos deixar de morder e de incomodar a elite.
Dia 13 de abril o filme será lançado no auditório da UNIOESTE, junto com o debate: Tensões e Contradições da Cidade. Já começamos o trabalho de divulgação através dos blogs, orkuts, facebooks, e sites de amigos de luta.
É um trabalho de formiguinha, mas bora lá!!!
Leia o texto Cemitério de Elefantes, de Deley de Acari:
http://fanzinecarteldorap.blogspot.com/2009/12/cemiterio-de-elefantes-por-deley-de.html
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