quinta-feira, 27 de maio de 2010
RAJADA MC’S 10 ANOS NA ESTRADA
“2010 é o ano do Rap Paranaense”. Essa frase eu ouvi de vários manos e minas de várias cidades paranaenses. Estamos ainda no mês de maio e vários grupos já lançaram cd ou anunciaram um álbum pra esse ano. Os shows e eventos estão acontecendo a todo vapor, por todo Paraná. O grupos do interior se organizam para mostrar que não é só nas capitais que tem movimento Hip-Hop e cria um movimento do interior paranaense. Um desses grupos vem da cidade de Campo Mourão e completou em 2010, 10 anos de caminhada. O nome do grupo é Rajada Mc’s, bastante conhecido na cena, que volta na ativa em 2010, depois de alguns meses fora de atividade. Agora com nova formação, os integrantes: Careca, Robinho, Neguinho, Alessandra e Lílian nos cede essa entrevista que publicamos na íntegra aqui no blog.
Como cada integrante começou no Rap, e como vocês se conheceram?
Careca: Comecei escrevendo poesias, aí quando conheci o Rap em 95 vi que eram poesias ritmadas; de tanto ouvir comecei criar meus rap´s em 1997 estudando com a Lílian e curtindo rap junto. Em 1999 recebemos um convite pra uma apresentação, tínhamos que fazer um rap sobre os 500 anos do Brasil, foi a primeira vez que subimos em um palco...foi loko..
Robinho: Comecei freqüentando as oficinas de Hip-Hop, formei um grupo que se desfez pouco tempo depois, aí recebi o convite pra ingressar no Rajada.
Neguinho: Ouvindo Rap Brasil, Racionais...aí comecei a escrever com meu primo. Conhecemos o Careca e o papa-léguas nas oficinas no SESC. Numa época eu pensei em parar, aí recebi convite pra entrar no grupo.
Lílian: Ouvindo, depois decorando, depois viciando em rap e depois escrevendo. O Careca teve a idéia de formamos um grupo..
Alessandra: Escrevendo com uma amiga e conheci os meninos indo nos shows. Aí em 2007 recebi um convite pra uma participação e estou até hoje.
Como foi o show de comemoração dos 10 anos do grupo?
Neguinho: O show foi loko, superou nossas expectativas, tivemos pouco tempo pra ensaiar devido ao tempo de cada um, conciliar trabalho, família e música, mas conseguimos...
Careca: Mano, eu vi no mesmo palco, na mesma noite, a nata do rap do interior. Eu vi Thiagão, eu vi Foras Da lei, eu vi Atitude Consciente eu vi Pensamento Racional, e vi um show de qualidade. Não porque era o nosso, mas sim porque foi um show completo com participações e quem viu com certeza compreendeu que o Rap do Paraná tem sim seu valor e tem muita qualidade.
Como vocês avaliam os dez anos do grupo? Pontos positivos e negativos da caminhada...
Careca: Acho que tenha mais pontos positivos do que negativos, com certeza. A gente aprendeu muito quebrando a cara sabe, talvez isso seja negativo, porque na nossa época não tinha ninguém pra mostrar o caminho, pra ensinar. Sabe mano, eu sou da época que não tinha internet nem pano de Rap, nem revista, nem site de rap, nem nada...por isso eu dou muito valor nas parada que tem hoje. Uma época difícil foi a época que ficamos separados e eu cheguei a pensar no fim do grupo, e digo que o grupo quase acabou. Não acabou justamente pelo lado positivo desses 10 anos, nossos seguidores, não gosto da palavra fã...eu me refiro às pessoas que acreditam em nós, nas nossas propostas, nas nossas verdades...nossa maior riqueza é o nosso publico, as minas as crianças, todos os irmãos que sempre abordam nos shows dizendo que somos inspiração pra eles, aí está nossa motivação.
Qual a discografia do RJD, vem CD novo pra esse ano?
Careca: Gravamos uma demo em 2002, mas nem chegou a ser lançada, então registrado mesmo temos o R.J.D de 2004, O Tempo é Rei de 2006 e o Single do novo trabalho de 2008. Nós temos o projeto de lançar esse disco que terá o nome de Vários Lados em Um Só no fim do ano. Na produção a gente conta com vários parceiros, Dj Papa-léguas, Dj kuruja, MPC288 e ainda estamos finalizando algumas parcerias com produtores paranaenses.
Como vocês vêem a questão da mulher no Hip-Hop? O hip-hop é machista?
Lilian: Sim, muito machista. Quebramos barreiras, mas ainda existe o preconceito. E isso só vai mudar quando a mudança partir das próprias minas envolvidas no movimento.
Quais as cidades que o RJD já se apresentou? Quais os shows agendados?
Robinho: Mano, é muita cidade. Já estivemos em Brasília, Curitiba, Foz, Maringá, Umuarama, Cianorte, Paysandu, Mandaguari, Sarandi, Guarapuava, Ponta Grossa, Iporã e Paranavaí recentemente. Estamos com shows agendados para retornar a Guarapuava em junho e vamos pra Santa Catarina em julho, e alguns shows ainda não confirmados por isso fica complicado divulgar.
Outros projetos que o grupo, ou algum integrante do grupo está desenvolvendo...
Careca: Eu tenho um projeto paralelo ao RJD com a banca MPC288, temos músicas aí que iremos reunir em um cd, mas sem previsão de lançamento. Também estou com um projeto voltado pra cultura Hip-Hop, mas independente. Estou buscando parcerias e pretendo colocá-lo em prática esse ano ainda..
Alessandra: Eu tenho planos de um cd solo de ReB produzido pelo Rajada para resgatar a Música Negra e colocar as mina em destaque no cenário paranaense.
Como está a cena do Hip-Hop em Campo Mourão?
Careca: Infelizmente o Hip-Hop em Campo Mourão está em processo de recuperação.Parece que um tornado passou por aqui e tirou tudo do lugar. Estamos nos levantando, ainda existem b.boys, alguns grafiteiros, e o Rap aqui é forte, mas sem apoio irmão, fica muito difícil. O meu plano é estruturar uma cultura independente.
Campo Mourão é uma cidade que sempre se inscreve para participar do concurso de capital brasileira da cultura. Como é o apoio da administração pública para o Movimento Hip-Hop?
Careca: Eis a questão... Um dia existiu apoio, hoje infelizmente não existe mais.
Como vocês avaliam o Hip-Hop Paranaense hoje?
Careca: Eu avalio que estamos engatinhando ainda mano, mas 2010 foi e é o ano do Rap Paranaense. Hoje em dia eu não ouço tanto rap paulista como antes e eu conheço mano aqui que só escuta rap paranaense e defende a bandeira, mano. Eu converso com os manos,
o Facínoras chegou em São Paulo e foram visto como invasores, segundo o falange os paulistas nos vêem como ameaça e eu concordo com ele. Por isso que devemos nos valorizar, organizar show aqui no Paraná, show de qualidade que os manos queiram pagar, tendeu? Nós temos capacidade pra isso, o rap paranaense na minha avaliação tem tendência a melhorar e só melhorar irmão, daqui pra frente é só progresso.
Rap Paranaense ou do Interior Paranaense? Como vocês vêem esse movimento do interior paranaense, os grupos se assumindo como sendo do interior? Existe algum bloqueio da capital para os grupos do interior?
Careca: Não. Acredito que não. É complicado falar da capital porque eu já morei lá por quase dois anos e, mano, é complicado...é um mundo diferente do interior, mas acredito que não. Nós já tocamos lá e fomos bem recebidos e o Thiagão sempre cola lá e é casa lotada. A idéia de bater na tecla interior é a questão de mostrar pro Brasil que no Paraná em geral existe Rap e não só na capital. É isso.
Nesse ano eleitoral, na opinião de vocês, como deve ser a postura do Hip-Hop a respeito da política partidária? O que vocês acham dos manos do hip-hop que se candidatam para cargos políticos e dos coletivos de hip-hop com vínculo político-partidário?
Lilian: Acho certo. O Hip-Hop é política, né mano, tem que se envolver sim, sem se corromper. Porque a elite tem os dele lá no poder, e nós? Nós não, né mano.Temos que eleger representantes da periferia sim, eu apóio, pois a partir do momento que você se isola você deixa de conquistar muitas coisas. Com tanto que os cara que estão lá não se corrompam.
Como os programas policiais de Campo Mourão e região tratam da questão da violência? Como a favela é retratada na mídia local?
Neguinho: A mídia é manipulada pelos poderosos da cidade.A gente acredita no que a gente vê. Tivemos dias mais violentos, não sei se hoje diminuiu ou as pessoas se acostumaram, mas a mídia mostra o que o sistema quer e com certeza não é a mesma coisa que a gente vê na rua.
Recentemente ouve uma grande discussão a respeito do Funk carioca ser ou não ser irmão do hip-hop. O Afrikaa Bambata, precursor do hip-hop subiu o morro no Rio e viu legitimidade dizendo que o Funk é um autêntico hip-hop.Como vocês avaliam essa situação e qual a relação do grupo Rajada Mc’s com outros estilos musicais?
Lílian: Aberto. Assim como o Rap norte americano o Funk perdeu a identidade e o Rap nacional só é autêntico porque ainda existe a pobreza.
Careca: Eu gosto de ouvir música mano, de todo tipo. O Robinho gosta muito de Reggae e agora pra esse cd novo temos algumas músicas com essas misturas, o Samba, o Reggae, a Música Negra.
Podem deixar uma idéia aí pros manos e minas?
Rajada MC’S agradece pela oportunidade e esperamos ter esclarecido algumas duvidas.
Deixamos aqui um salve especial aos manos e minas de Foz, e aguardem, quem sabe um dia nós aparecemos aê neh? A nossa proposta ainda é a mesma, o respeito, a justiça e a dignidade pro povo da periferia, a auto valorização dos mais humildes...e com esforço dedicação e amor você chega lá. Não desista mano, fé em DEUS ainda é a chave e o tempo ainda é o Rei. Paz a todos. RJD agradece.
Ouçam músicas do RJD:
http://www.myspace.com/rajadahiphop
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