Galhardetes, baners, faixas, carros de som, panfletagem profissional, promessas, mentiras, acusações e bravatas. De 2 em 2 anos somos submetidos autoritariamente a esse martírio. A propaganda oficial diz sobre o seu Direito ao voto. De acordo com Marilena Chauí “a função do Direito é fazer com que a dominação não pareça uma violência. Se o Estado e o Direito fossem percebidos como instrumentos de dominação, os dominados se revoltariam”. E hoje o que fazem os partidos, inclusive os de esquerda? Se valem desse Direito ao voto para disputar espaço no Estado. E reparem que no caso das eleições, sob as cortinas do Direito se esconde uma obrigação. Se a pessoa com idade eleitoral resolve não votar, ela estará obrigada a uma multa ou será submetida a punições que trarão transtornos à sua vida social e pessoal. Ou seja, o que se propagandeia como um direito seu, na verdade é uma imposição.
As candidaturas de esquerda muitas vezes são justificadas com o argumento de que o Estado é um fato que independe da nossa aprovação como militantes, e que por isso devemos ocupar esses espaços com nossos representantes para serem um contra-ponto aos políticos de direita. Começamos aqui denunciando a possível ingenuidade que há em acreditar nisso. Para quem concorda que O Estado é o comitê executivo da burguesia, é um tanto quanto equivocado levar a nossa luta para um campo onde a burguesia tem mais força. Pela experiência acumulada nesses dinâmicos anos de “democracia”, percebemos que “nossos representantes” não ocupam espaços no aparato do Estado. Eles são, sim, consumidos, tragados, abduzidos pelo Estado.
Se os partidos surgem como forma de organizar o povo para a luta, esse propósito se desvirtuou com o tempo. Hoje, em função das eleições, os partidos não só abdicam da organização da luta popular, como desorganizam algumas iniciativas em construção. Em primeiro lugar ninguém seria leviano em negar que em período de eleição não há luta, a não ser por votos. Toda a esquerda, inclusive a que não é cúmplice disso, é pautada pelo processo eleitoral (vide o atual insucesso do Plebiscito Popular Pelo Limite da Propriedade de Terra, pro qual já se sabe, teve uma participação bem inferior aos plebiscitos anteriores ). Numa segunda análise nota-se que algumas organizações passam um período de 1 ano e meio em suas bases num trabalho de formação sob um alerta de Karl Marx de que “A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”. Até que a campanha eleitoral começa e boa parte da esquerda atravessa o nosso caminho dizendo que “o seu voto pode fazer a diferença”.
Com tanta gente falando sobre o voto como caminho para o progresso, a justiça social e a paz, e como a defesa do processo eleitoral está presente tanto no discurso da direita como no da maioria esmagadora da esquerda, como o grito de “vote” ecoa bem mais e em maior volume do que o grito de “lute”, por fim as bases se convencem de que a emancipação dos trabalhadores será obra... do “meu representante” no congresso, na assembléia, na câmara municipal, e no palácio do governo. Só que como a máquina de propaganda (e compra de votos) da direita é infinitamente mais forte do que a da esquerda, a grande maioria dessas pessoas convencidas a votar, votam em conditat@s de partidos conservadores. Isso fica difícil de ser enxergado por uma esquerda distante das “comunidades baixa-renda”. Porém, mesmo de longe isso pode ser constatado quando se observa que quase a totalidade de moradores dessas comunidades que se candidatam, o fazem por partidos de direita. Esse é o resultado do desserviço prestado pela esquerda partidária, que legitima a perpetuação de nossos inimigos no poder.
Numa das primeiras paginas da tão comemorada constituição de 1988, consta que “todo poder emana do povo (...)”, mas, por exemplo, na esfera federal, 15,5 bilhões do nosso dinheiro foram gastos saldando a dívida do Estado brasileiro com o FMI; no Estado do rio, com um déficit de aproximadamente 10 mil professor@s, o governo gasta R$ 45 milhões com carros e helicópteros blindados para a sua polícia, em maior segurança, atirar em cabeça de pobre; no Rio, a prefeitura proibiu a utilização de escolas municipais para a realização de cursos pré-vestibulares comunitários. Cursos esses que capacitaram muit@s jovens de periferia a prestar, com sucesso, um vestibular que nem deveria existir. Se o poder de fato emana do povo e se o povo é diretamente afetado com tais medidas, por que o povo não pode debater e decidir?
Alguns militantes de partidos de esquerda dizem que o voto nulo, hoje, no Brasil é despolitizado. Podemos até concordar com isso, mas a mesma coisa pode se afirmar sobre o voto válido: sua esmagadora maioria se baseia em critérios os mais variados e absurdos que não o histórico, a orientação e plataforma política de cada candidat@. Para ilustrar tal fato basta ver a projeção de votos para o candidato a deputado em São Paulo, Tiririca, cujo slogan é “Vote no Tiririca. Pior do que tá não fica”. E esse processo de deseducação política do nosso povo tem enorme colaboração dessa esquerda que promove campanhas como “Fora Sarney”, “Fora Arruda” e outras semelhantes, atacando um sintoma da nossa sociedade e não a sua estrutura. Por que? Seria por que não é interesse implodir uma estrutura da qual querem se beneficiar? Em artigo publicado em junho deste ano ( http://metamorfozesnacidade.blogspot.com/2010/06/uma-outra-politica-e-possivel.html), o sociólogo Antonio Ozai dá a sua opinião sobre essa questão: “cada vez mais aumenta o número dos que passam a viver da política. A missão revolucionária, viver para a política, é sutilmente substituída pela dependência econômica em relação ao aparato burocrático do partido e do Estado”.
Para @ polític@ honesto da esquerda que quiser de fato combater a corrupção na nossa política, o primeiro passo deveria ser não emprestar a credibilidade de seu nome a um jogo que permite a acessão ao poder de figuras como Collor, Sarney, Maluf, Arruda, Álvaro Lins, Celso Pita, José Dirceu e tant@s outr@s. Também não se sustenta o argumento de que pode se votar no candidato X para impedir que o candidato Y se eleja. A dinâmica da política institucional é muito suja. Os opositores de hoje “num toque de mágica” amanhã se tornam aliados. Um bom exemplo era a polarização entre PP e o PT, principalmente em São Paulo. Essa prática de votar para excluir funcionou até 2003. Quando o PT chega à presidência o PP – que já se chamou PDS, PPR e que tem origem na Aliança Renovadora Nacional (ARENA, partido de sustentação da ditadura de 1964) – se alia ao antigo rival. Como dissemos, o jogo é sujo.
Respeitamos todas as formas do povo organizar a luta contra-hegemônica. E se criticamos a atitude dos partidos que disputam eleições é porque acreditamos que essa não é uma forma de organizar, mas sim, o contrário, ela desorganiza a nossa classe para a luta.
Então, não é só pelo que representa o Estado; não é só pelo impacto negativo que o processo eleitoral tem sobre as organizações populares; não é só por legitimar o poder exercido pelos nossos inimigos de classe; não é só pela corrupção d@s que são eleit@s; não é só pela sangria de militantes das ruas para o aparato burocrático, tanto do Estado quanto dos partidos; não é só pelo fato de esse modelo institucional usurpar o poder que deveria emanar do povo. É por tudo isso junto que nós do Coletivo de Hip Hop LUTARMADA acreditamos que o caminho que nos levará ao socialismo não passa pelas eleições. É por isso que nós defendemos o voto nulo.
Inspirad@s nos Black Panthers,
TODO PODER AO POVO.
Coletivo de Hip Hop LUTARMADA.
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