terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

DOIS POEMAS DE PABLO NERUDA

A RAINHA

Eu te consagrei rainha.
Existem mais altas que tu, mais altas.
Existem mais puras que tu, mais puras.
Existem mais belas que tu, mais belas.

Tu, porém, és a rainha.

Quando vais pela rua
Ninguém vê tua coroa de cristal, ninguém olha
A alfombra de ouro rubro
Que pisas onde passas,
A alfombra que não existe.

E quando apareces
Soam todos os rios
Em meu corpo, ressoam
Pelo céu as campanas
E um hino enche o mundo.

Só tu e eu,
Só tu e eu, amor meu,
O escutamos.


A POBREZA

Ai, não queres,
Te assusta
A pobreza,

Não queres
Ir de sapatos rotos ao mercado
E voltar com o velho vestido.

Amor, não amamos,
Como os ricos querem,
A miséria.
Nós a extirparemos como um dente maligno
Que até hoje morde o coração do homem.
Porém não quero
Que a temas.
Se vem, por minha culpa, à tua casa,
Se a pobreza expulsa
Teus sapatos dourados,
Que não expulse o teu riso, que é o pão de minha vida.
Se não podes pagar o aluguel,
Sai ao trabalho com passo orgulhoso,
E pensa, meu amor, que estou te olhando,
E juntos somos a maior riqueza
Que jamais se reuniu sobre este mundo.

(Poemas do livro: Os Versos do Capitão)

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