
Na minha infância eu tive o desprazer de conhecer alguns adultos que não gostavam de ver as crianças se divertirem. Na viela “C” do Jd. Paraná, eu e meus amigos jogávamos futebol em frente à casa de uma senhora. Toda vez que a bola caía no quintal ela cortava com uma faca. Na casa de uma outra senhora a gente entrava no pátio pra colher fruta do conde. Quando estávamos lá encima da árvore ela dizia: “Vou ferver uma água”. Depois ela saía com a chaleira pra fora e a gente nem insistia em ficar por ali pra ver se era água quente mesmo. Numa fazenda que tinha ali perto íamos bem cedo pra catar coquinho. O senhor da fazenda deixava o cachorro mais bravo solto, mesmo sabendo que as crianças iam lá para catar os coquinhos que estavam caídos no chão. Na Casa Paraguaia, um clube que tem no Jd. Ipê, a gente entrava pelos fundos para pescar num pequeno riacho, localizado dentro do clube. Ali a situação era mais grave. O segurança corria atrás da gente com um revolver em punho e disparava alguns tiros. Nunca tivemos a certeza se ele estava atirando pra cima ou em nossa direção.
Hoje na minha casa eu tenho algumas árvores frutíferas. O mais disputado pelas crianças é o pé de acerola. Sempre que ta calor ele fica carregadinho de frutinhas vermelhas. As crianças passam por ali quando estão indo e voltando da escola, batem palma, e pedem: “tio, posso colher frutinha”. E eu sempre digo: “Colhe só a quantidade que você vai conseguir comer”. As crianças se divertem muito e eu aproveito pra me divertir junto, fico ali conversando com elas, contando histórias, fazendo umas rimas. Um dia perguntei pra uma dessas crianças se elas gostavam de ler e hoje dezenas de crianças passam no meu barraco pra pegar livros na bibliotecazinha improvisada.
Outro dia um garoto veio me mostrar os desenhos que ele fez inspirados no livro que levou pra casa.
É o meu presente se vingando do passado pra construir um futuro diferente.
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