AMOR LIBERTÁRIO

Eu não aceito
Que me coloquem rédeas
Que me padronizem
Que me formatem
Não aceito que digam
O que devo ou não fazer

Não gosto de bater cartão
Ouvir ordens de patrão
Nem de almoçar sem fome
Nem de ir dormir sem sono

Não gosto de escrever
O que querem que eu escreva
Não gosto de cantar
Só o que querem ouvir
Não gosto da rotina
Nem da obrigação da rima

Não curto burocracia
E nem formalidades
Quero poder entrar
De chinelo de dedo
De camisa regata
Ou até sem camisa
Toca na cabeça
Num calor de 40°
Pé no piso frio de 0°

Não digam o que tenho que ler
Qual filme assistir
Em quem votar...

Deixe eu lavar minha roupa
Cozinhar minha comida
Não me diga que eu preciso
Ter uma mulher ao lado
Só pra fazer tudo pra mim

Quero minha liberdade
Deixar a grama crescer
Deixar a barba crescer
Beber na segunda feira
Trabalhar fim de semana

Não gosto de previsão do tempo
Curto a chuva de surpresa
O pé de tomate que nasce
Sem semear a semente

Não me diga
Que qualidade de vida
É TV e microondas
Carro zero na garagem
Quero mais é vadiagem
Quero a vagabundagem
Caminhar na contramão
Do ponteiro do relógio

Não quero a doutrina
Nem a religião
Não quero a disciplina
O sim-senhor-não-senhor
Não quero mãos na parede
Nem andar com documentos
Quero o sabor do relento
E o prazer do momento

Sou eternamente filho
Sem vocação pra ser pai
Sou amigo, sou irmão
Sou amante e amador
Nunca fui profissional
Nunca tive profissão
Nunca tive vocação

Não curto cordialidades
Frente às desigualdades
E nem diplomacia
Diplomas e relatórios
B.O.s de delegacia

Não quero senha, cartão
Código de barra
Impressão digital
Barreiras e cancelas
Cercas, muros, interfones
Camêras de vigilância

Não quero faixas de pedestre
Quero o direito à rua toda
Andar despreocupado
Sem ser atropelado

Não quero casamento
Nem aliança no dedo
Eu quero poder viver
Sem relações de poder
Não aceito imposição
Quero a liberdade dos pássaros
Poder voar céu à fora
Quero o amor libertário

Eu não aceito
Que me coloquem rédeas
Um coração selvagem
Não aceita ser domado