Nasceu bem miudinha. Recebeu o nome de Sandra e o apelido de Sandrinha. Cresceu tanto que hoje poderia ser chamada de Sandrona, mas o Sandrinha ficou. Todos brincam dizendo que ela comeu muito fermento. Sempre gostou de estar no meio da galera, gosta de multidão, mas mora sozinha há dez anos.
Sandrinha mora num bairro bem sinistro e curioso. A padaria só abre depois das 10 da manhã, a lan house nunca tem internet e o restaurante fecha para almoço. A vila fica muito distante do centro da cidade e esperar ônibus é teste pra cardíaco. Ela trabalha nas proximidades do aeroporto e demora duas horas pra ir pro trabalho e duas horas pra voltar. Resolveu fazer faculdade à distancia, o ônibus foi sua sala de aula.
Nas horas vagas Sandrinha curte no bar do Zé. O bar é bem conhecido da galera. No dia da inauguração do bar ele comprou pouca cerveja e aconteceu algo que é comentado até hoje. Lá pelas duas da manhã o bar estava lotado e o Zé disse que ia fechar. Ninguém entendeu nada, aí ele disse que só restava duas caixas de cerveja e se vendesse tudo não teria mais cerveja pra vender no outro dia.
Sandrinha vive ali jogando sinuca. Ela nunca aceitou que os homens pagassem cerveja só por ela ser mulher. Mas como é boa de sinuca e sempre joga a valer cerveja, na maioria das vezes bebe de graça. Ela também nunca vai a festas onde mulher não paga. Sandrinha é conhecida no bar também pelo seu gosto musical bem diferenciado. Enquanto a maioria das pessoas colocam as moedas na Jungle Box para ouvir sertanejo universitário e os hits do momento ela sempre põe MPB, Rap, Reggae Raiz, Samba Bom, Rock, na maioria das vezes musicas desconhecidas pra galera.
Percebendo o tempo que os moradores ficam esperando o ônibus, Sandrinha resolveu colar poesias nos pontos. Durante a noite ela passa de ponto em ponto, quando amanhece, o bairro ta pulsando poesia que todos podem ler antes de ir pro trabalho. Sua ultima façanha foi nas ultimas eleições. Ela colocou uma faixa na frente da sua casa onde dizia: “NÃO ALIMENTE OS ANIMAIS” “VOTE NULO”.
Sandrinha segue sua vida na contramão do que é imposto por essa sociedade.
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