terça-feira, 20 de março de 2012
A INCENDIÁRIA
- Êita menina. Assim você me mata!!!
- Ai se eu te pego... (risos)
- Você me deixa sem jeito.
- Não gosta que eu fique te assediando?
- Você não ta me assediando. Ta me incendiando. (risos)
- Adooooooro!!!
(...)
Depois do acontecido, tentaram apelidá-la de Maria Gasolina
O sol ensaiava o parto
Num ponto sem telhado e sem banco
Na entrada da Cidade Nova
Uma pequena multidão esperava o primeiro ônibus do dia
Ela surgiu do nada com seus passos lentos e firmes
Em uma das mãos carregava uma placa
Na outra, uma garrafa pet cheia de gasolina
Muita gente não entendeu seu protesto solitário
Fincou a placa na beira da estrada
Puxou uns galhos e fechou a rua
Pediu pro motorista e pro cobrador descer
Deu um banho de gasolina no ônibus
Desceu e ateou fogo pela janela
O povo leu a placa, mas ninguém se manifestou
Como se concordassem com o que estava escrito:
“Sorria, você está sendo roubado – R$ 2,65 é Roubo”
Na rua de terra vermelha o ônibus verde tossia fumaça preta no céu azul
Pensei comigo: “Essa não brinca com fogo”...
Passou por mim e lançou um olhar que me incendiou
Se um olhar fala mais do que mil palavras
Nenhuma delas á capaz de expressar
O que aquele olhar despertou em mim
Vi vários cupidos lançando flechas de suas mechas
Tirei uma folha de caderno e uma caneta da mochila
E comecei a escrever:
“Essa não é fogo de palha... essa menina é quente
40 graus de febre nos 40 graus de Foz
Ela é incendiária, revolucionária!!!”
Enquanto ela subia e sumia com a garrafa vazia
Que parecia, e realmente era, sua arma de fogo
Um foco de luz queimava meu corpo
Hipnotizando os meus olhos que nem pisca
Inconscientemente no papel
A caneta rabisca soltando faísca
O amanhecer coloria a terra
Surgindo das entranhas do abismo da serra
Onde a noite se encerra
E as trevas se enterra
A borracha queimada cheirando como perfume
A luz do dia como o lume dos vaga-lumes
Lançando raios em fachos como fogos de artifício
No silencio do meu suplício
Reluzindo em archotes, num brilho de Farol
Na insolação mórbida do sol
Na combustão inflamável na qual me envolvi
Depois ri quando li o que escrevi:
“To doido pra saber qual é a lava que te lava e que te leva
Qual é a chama que te chama
A vela que te vela na favela
Qual o amo que te ama
O canto que te encanta
O livro que te livra”
Fiquei meio pinel, perdido nos labirintos de suas labaredas
No alarde da fogueira que arde no fim da tarde
A bola vermelha do sol se pondo
No andar das crianças, no vôo dos pombos
Com ardor, esperei no mesmo ponto
Meio bobo, meio tongo, meio tonto
Meia noite em ponto
Uma noite e tanto
A alegria faz o parto
Numa atividade paranormal
Botou fogo em meu quarto
Me abraçou e me abrasou
Fiquei com o coração em chamas
- Êita menina. Assim você me mata!!!
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