quarta-feira, 4 de abril de 2012

Entrevista com Eduardo Marinho:



Vanguarda do Rap Nacional: Como você enxerga o papel do Rap Nacional? Você acredita que isso seja um paliativo para o povo da favela?

Eduardo Marinho: Paliativo? O rap é uma forma de expressão artística nascida nas favelas e nas periferias. Esse é o seu grande diferencial, que aumenta em muito sua responsabilidade, por estar ligado à parte mais sacrificada da sociedade, a mais sabotada em todas as áreas, incluindo educação, informação e cultura. No início, que eu me lembre, eram só poesias de protesto, de denúncia, de convocação à rebelião, de esclarecimento, de incentivo, de relato das realidades vividas pela maioria mais pobre. A repressão veio em cima, direto, as classes abastadas começaram a temer a propagação do rap, assustadas. O rap tinha cheiro de revolta popular, o terror das classes abastadas. Mas os ataques tiveram outras frentes. Empresários perceberam o potencial de atração dessa arte, num certo mercado consumidor, e investiram nos artistas, interferindo na criação, cooptando, sugerindo ou impondo temas mais vendáveis. Não se pode condenar ninguém por querer sair da situação de penúria, mas esvaziar um conteúdo tão importante e necessário acaba esvaziando, também, o espírito. O preço é alto. A satisfação exterior jamais substitui a satisfação interior mas, na minha opinião, a satisfação interior substitui facilmente a exterior, com muita vantagem. Como em qualquer arte, há artistas que se dispõem a melhorar a própria situação, cultivando a fama e o comércio puro e simples de uma arte vazia, que trata de banalidades ou pior, incentiva os instintos primitivos, o sexo, o consumo, a violência, a disputa entre irmãos de situação. E há artistas íntegros, em menor número, que não admitem esvaziar a própria arte em troca de benefícios materiais e egocêntricos. “Esses são os imprescindíveis”.

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