sexta-feira, 8 de junho de 2012

AVATARES



Os homens de uniforme azul escuro me contaram muitas histórias.
Me falaram das vidas que as turbinas engoliram.
Dos corpos concretados, virando massa no paredão.
Os sonhos evaporados voltando junto com a próxima chuva.
As brigas, intrigas, e amizades entre amigos e inimigos de trabalho.
As festas, o batente, os alojamentos, as paixões, confraternizações,
os relacionamentos, as frustrações, perseguições, investigações, prisões.
As firmas que abriram falência pra não pagar os funcionários.

A classificação que nunca veio.
As horas extras perdidas.
Os acidentes de trabalho.
Gente que perdeu dedo, braço, perna, memória, família, vida.
Tem quem perdeu também a paciência.

Aqueles que construíram o gigante elétrico, me contaram muitas histórias das noites iguaçuenses.
Me falaram de Pé Inchado, Escadão, Trevão, La Piova e de uma centena de pequenos bares e botecos nas centenas de pequenas favelas de Foz e nas centenas de acontecimentos que envolveram centenas de pessoas e vidas.
Marejaram olhos para falar de sua origem, sua infância.
A terra natal banhada a leite e mel, onde as frutas colhidas do pé eram tão doces.
O amor que ficou pra trás, a promessa de retorno que também ficou pra trás.

Nas rugas de seus rostos e no semblante cansado vi o desgaste das possibilidades.
Os anos que marcharam sem trégua, corroendo as engrenagens da alma.

Os homens de uniforme azul escuro construíram o monstro que cospe eletricidade e que ilumina centenas de cidades Brasil a fora.

Mas ainda habitam as ruas tão escuras e mal iluminadas das quebradas de Foz.

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