Os homens de uniforme azul escuro me contaram muitas histórias.
Me falaram das vidas que as turbinas engoliram.
Dos corpos concretados, virando massa no paredão.
Os sonhos evaporados voltando junto com a próxima chuva.
As brigas, intrigas, e amizades entre amigos e inimigos de trabalho.
As festas, o batente, os alojamentos, as paixões, confraternizações,
os relacionamentos, as frustrações, perseguições, investigações, prisões.
As firmas que abriram falência pra não pagar os funcionários.
A classificação que nunca veio.
As horas extras perdidas.
Os acidentes de trabalho.
Gente que perdeu dedo, braço, perna, memória, família, vida.
Tem quem perdeu também a paciência.
Aqueles que construíram o gigante elétrico, me contaram muitas histórias das noites iguaçuenses.
Me falaram de Pé Inchado, Escadão, Trevão, La Piova e de uma centena de pequenos bares e botecos nas centenas de pequenas favelas de Foz e nas centenas de acontecimentos que envolveram centenas de pessoas e vidas.
Marejaram olhos para falar de sua origem, sua infância.
A terra natal banhada a leite e mel, onde as frutas colhidas do pé eram tão doces.
O amor que ficou pra trás, a promessa de retorno que também ficou pra trás.
Nas rugas de seus rostos e no semblante cansado vi o desgaste das possibilidades.
Os anos que marcharam sem trégua, corroendo as engrenagens da alma.
Os homens de uniforme azul escuro construíram o monstro que cospe eletricidade e que ilumina centenas de cidades Brasil a fora.
Mas ainda habitam as ruas tão escuras e mal iluminadas das quebradas de Foz.
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