
Eu acho tão lindas as casas sem muro da nossa favela.
Aquele gramado verdinho onde os moleques improvisam campinhos de futebol.
As crianças sempre correndo, brincando de pega-pega, rolando na grama.
O jardinzinho regado com tanto carinho.
Às vezes minha mente rebobina e eu vejo flashes de minha infância.
Lembro da nossa primeira casa na favela do Jd. Paraná.
A cerquinha de madeira tão modesta era só um acessório para deixar a casa mais simpática.
O portãozinho sem cadeado estava sempre aberto convidando os vizinhos a chegarem para tomar um chimarrão.
No domingo de manhã, enquanto eu e meus irmãos ficávamos lagarteando no sol, esperando o cheiro de café se espalhar pela casa, minha mãe colocava um vinil de samba bom e cantava a vida simples.
Há uns dois anos atrás meu vizinho da direita construiu um muro enorme, impedindo minha visão desse lado da favela.
Na semana passada fui surpreendido com um caminhão descarregando tijolos na casa da vizinha do lado esquerdo.
Daqui uns dias perderei também a visão desse lado.
Me entristece ver a nossa favela se trancando cada vez mais nos muros do medo.
Os cachorros que eram animais de estimação se transformaram em cães de guarda.
Nas antiga, as casas eram construídas nos fundos dos quintais, e sobrava todo aquele espaço na frente.
Hoje são construídas coladinhas na rua, dispondo o fundo dos quintais para curtições privadas.
Eu invejo tanto as relações de sociabilidades e solidariedade que viveu meus pais com seus vizinhos.
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