quinta-feira, 15 de abril de 2010

Debate desnuda a realidade social de Foz (Por: Alexandre Palmar)



Mais de 200 pessoas. Moradores dos bairros e do centro. Trabalhadores, desempregados; universitários, analfabetos; doutores, educadores sociais; situação, oposição; bajuladores, candidatos a aspones; tv comunitária, filmagem encomendada a la SNI; observadores, patrulhadores...

Esse era perfil do público no lançamento do documentário As muitas faces de uma cidade, dia 13, na Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Contraste evidente, aflorado talvez por este ano ser eleitoral, talvez porque muita gente tomou posição sem tomar conhecimento do conteúdo do filme.

A produção do historiador Danilo Georges e do militante do movimento hip hop Eliseu Pirocelli causou frisson antes mesmo de ganhar o projetor. Depois da exibição, então, o debate esquentou. Os participantes da contenda se manifestaram de forma permanente, apresentando denúncias, cobrando explicações e reivindicando melhorias nas condições de vida da população iguaçuense que vive nas comunidades populares.

As principais cobranças do público se relacionavam a problemas na área de saúde, habitação e cultura. Além disso, foram levantadas as dificuldades derivadas da mesmice e do continuísmo político e partidário na administração pública municipal.

Desde a retomada da democracia, em meados da década de oitenta, apenas três grupos se revezam no poder, impedindo o surgimento de propostas e compromissos diferentes na governabilidade e na representatividade local. Os atuais mandatários plantão já estão se encaminhando para completar seis anos consecutivos na Prefeitura de Foz do Iguaçu.

A mesa foi formada também pela professora da Unioeste Silvana Sousa, intermediadora da conversa, pela historiadora Adriana Facina (Universidade Federal Fluminense), e pelo jornalista Jackson Lima. "Este momento tem extrema importância para discutir os passos da cidade. Mostra como é possível se organizar e mobilizar, mostrar a indiganação de todos, hoje em especial das camadas populares. É preciso intervir para que as mudanças ocorram", afirmou Silvana.

Organizadores - Em sua fala inicial, Eliseu, o mano Zeu, buscou dar o tom da conversa ao comentar a trilha sonora do audiovisual, propositalmente, feita só de artistas iguaçuenses, pouco incentivados e apoiados na cidade. Segundo ele, existe democracia institucional, mas não é participativa. O povo produz a riqueza, mas não a compartilha.

“Se a cidade fosse minha, fosse sua, fosse nossa, a cidade era outra, não estaria assim na fossa”, disse Zeu, comentando sobre a falta de espaços de participação da sociedade nas decisões. “Cidade Nova toda vez que chove, o vento leva o telhado de uma casa, já levou da minha, do meu vizinho”, denunciou o militante do movimento hip hop.


Professora Silvana Sousa, historiador Danilo Georges e Mano Zeu

Para Danilo Georges, o desafio é pensar alternativas para a classe trabalhadora empobrecida. É conseguir direitos básicos, como saúde, transporte, educação, moradia, entre outros. “Temos governos de continuísmo. Precisamos de algo novo, pois existe um vazio”, afirmou.

O historiador destacou ainda a diversidade de pessoas na platéia. “Hoje aqui a gente tenha morador de favela na universidade. A Unioeste não é de ninguém. Tem gente que quer ser dono da Unioeste, que quer ser dono da imprensa. A gente tem que dizer para umas pessoas que não é ele está numa faculdade privada, não é porque tocam um jornal, não é porque tem dinheiro que elas são donos da cidade”.

Cultura - Além de dar visibilidade às favelas e aos bairros, o debate discutiu as ações culturais na cidade, a forma da tomada de decisões no setor, a concentração de verbas públicas para eventos, em especial, os montantes destinados à Fartal e ao Carnaval.

O secretário-geral da Fundação Cultural, Adilson Pasini, respondeu as criticas e informou alguns projetos além desses dois grandes eventos iguaçuenses (Feira Internacional do Livro, Encontro de Corais, Festival Internacional de Cinema e Festival Internacional de Teatro). Pasini aproveitou para dizer que não entendia as criticas da mesa aos caminhos da cultura já que o movimento hip-hop participou da Conferência Municipal de Cultural, em outubro de 2009.

Mano Zeu respondeu ao questionamento de Pasini. “Não gostei da forma como a Conferência de Cultura foi organizada”, denunciou. Ele revelou que houve atraso na convocação do evento. “Peguei os cartazes e flyers para divulgar a conferência um dia antes do evento. Acabou no lixo porque não tinha mais tempo para divulgar”, apontou.

A Conferência de Cultura realizada em Foz do Iguaçu atendeu uma exigência do Ministério da Cultura, entretanto, o fórum não contemplou a discussão sobre a efetiva implantação de um conselho e de um fundo de financiamento para cultura, condições indispensáveis para o incentivo à produção cultural.

Zeu sustentou que o hip-hop local tem uma relação conflitante com a Fundação Cultural, autarquia da administração municipal que “não investe no movimento e na periferia”. “Que dia que a banda e a orquestra foram tocar na favela? Será que o favelado não tem o direito de ouvir muita clássica ou musica erudita?”. Para ele, o poder público está presente nas favelas em anos eleitorais para palanque político.

O debate ainda registrou outras participações importantes, entre elas do representante da Secretaria de Governo de Foz, Adelino de Souza. Coube a ele responder as críticas à administração pública e a informar as realizações governamentais: citou números de casas contruídas, "novo perfil do Provopar", escolas climatizadas, centros de convivência, hospital municipal, além de antecipar uma ação na área cultural (a criação de um projeto de cinema nos bairros).

Fonte:http://www.megafone.inf.br/

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