Rebobinamos a fita e voltamos 10 anos no tempo. Zona norte de Foz do Iguaçu, Favela do Jd. Paraná, 14:00hs, dia 15 de setembro, ano 2.000. Jovens militantes do Movimento Hip-Hop resolvem se organizar em forma de coletivo. O Hip-Hop na cidade já existia e o encontro dessas pessoas prometia uma expansão maior pela cidade com organização de eventos e oficinas. Nesse dia aconteceu um ensaio, que reuniu vizinhos, parentes, amigos. Na discussão do nome que dariam ao coletivo que estava nascendo ali, alguém sugere: “Vamos montar um Cartel”!!!. Alguns olhares desconfiados, e alguém completa depois: “É isso mesmo, um Cartel de Cultura Hip-Hop. Vamos traficar informação”. Surge aí o Cartel do Rap com intenção de difundir o Movimento Hip-Hop na cidade e também desconstruir a idéia de que a favela é um lugar de ladrões, traficantes e cartéis distribuidores de droga.
10 anos depois o Cartel do Rap continua na atividade em Foz e região e grava o seu terceiro CD, intitulado “10 anos na Fita”. O primeiro álbum foi duplo e saiu em 2004 intitulado “A Chave é a União”; o segundo foi um Cd ao Vivo lançado em 2008 “Ao Vivo no Casulo Rock Bar”. Fora essas três coletâneas, vários grupos que integraram ou integram o coletivo já lançaram seus Cds solo.
gravação do Cd Ao Vivo no Casulo
O álbum “10 anos na Fita” resgata um pouco essa memória cronológica do Movimento Hip-Hop na cidade com os acontecimentos que marcaram a vida dessas pessoas durante a caminhada. A capa do Cd é em formato de uma fita cassete e traz essa lembrança de quando o Hip-Hop iniciou na cidade e os instrumentais eram executados pelos Djs em fita cassete. Na época em que não tinham poder aquisitivo para comprar toca-discos, vinis, toca cds ou produzir instrumentais e então improvisavam gravando na fita pedaço por pedaço de bases gringas até montar um instrumental completo.
1° Rap na Quebrada organizado em 2003
Nesse álbum tudo simboliza o tempo, até a junção de antigos integrantes do Cartel com os novos militantes. “Nóis é zica na Fita, no DVD, no Pen drive”, canta Fernando Nègre, na música Tem Maloqueiro na Pista que finaliza o álbum, simbolizando aí o avanço da tecnologia, desde as fitas cassetes, até as músicas baixadas da internet e executadas no Pen Drive. Uma música que poderia dar título ao álbum é do Mano Luizinho. A canção intitulada “Quem Diria” traz toda a memória da infância, as dificuldades na vida, e o sentimento de resistência por continuar vivo na cidade brasileira em que mais se assassina jovens. O refrão diz: “Quem diria que há tempo / relógio da vida se movimenta no movimento / acerte os ponteiros / que as horas passam ligeiro, as horas passam guerreiro / e o tempo passa também”. A música Chacina do Monsenhor de Mano Zeu e Mano Elias foi gravada em 2009, escrita em 2007, mas narra um fato que aconteceu em 1997. Oito policias e um delegado desceram a Favela do Monsenhor e assassinaram 04 jovens. O caso só foi julgado onze anos depois e todos os policiais foram inocentados. O grupo Levíticos traz canções onde contam a história de pessoas que viveram um passado de crimes e hoje estão na militância pelo evangelho.
As músicas trazem toda a contestação social no estilo do rap das antiga que ainda não se rendeu a padronização exigida pela indústria fonográfica e cultural. O álbum conta com 13 faixas gravadas pelos grupos Verso de Honra, Luizinho VMM, ALX, Santiago, Mano Zeu, Levíticos e Fernando Nègre.
O lançamento do Cd é dia 08 de maio no Casulo Rock Bar. As 50 primeiras pessoas pagam 10 reais e ganham um CD. O ingresso normal é 5 reais.
Com início as 21:00hs o evento conta com apresentação dos grupos do Cartel do Rap e com a 2° Batalha Regional de Break.
Vale a pena comparecer.
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