
Ontem choveu a nossa chuva. O céu do Cidade Nova escureceu de repente, nuvens negras pousaram sobre nossas casas. Os relâmpagos e trovões não cessavam e parecia que os anjos estavam tirando fotos lá de cima. A chuva sempre me fascinou e mexeu comigo. Já me vi como um personagem de um livro do Ferrez, deitado no piso do barraco com a cabeça pra fora, olhando pro céu enquanto a chuva caía sobre o rosto. “Chove lá fora / E aqui tá tanto frio / Me dá vontade de saber.../ Aonde está você?”, a chuva já rendeu muitas canções tristes. No livro Cem Anos de Solidão do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, a chuva nunca mais quer parar. No filme brasileiro A Máquina, o personagem Antônio nasceu num dia de intensa chuva, ficou por anos sem parar de chorar e a chuva também não cessou. Quando cessou seu pranto, muitos anos depois, a chuva também parou e ele aprendeu a controlar o tempo, fazendo chover e parar de chover quando quisesse.
Nessa segunda feira chuvosa eu cozinhei uma sopa bem apimentada e abri uma garrafa de vinho. Jantei ouvindo MPB, a música se misturou ao som da chuva caindo no telhado do barraco. É triste jantar sozinho numa noite chuvosa. Me vem várias lembranças na memória, a fita rebubina. Na minha infância eu morei perto da barranca de um rio no Jd. Paraná. Ao mesmo tempo que lembro das brincadeiras que fazíamos naquele rio, nadar, pescar... Também lembro da minha mãe correndo comigo e meus irmãos no colo, a água invadindo o nosso barraco. Tinha que buscar refúgio nos vizinhos que moravam na parte mais alta da favela, aonde a água não chegava.
Em São Paulo as enchentes sempre tiraram a paz da população. Nos morros do Rio de Janeiro a chuva está causando vários desabamentos e mortes. Nos últimos dias assisti a um documentário e li alguns textos sobre a crise mundial da água. É alarmante saber que se seguirmos o rumo de consumo e de poluição atual, em algumas décadas faltará água para boa parte da população mundial. O ser humano não sobrevive a mais de uma semana sem tomar água. Escreveu Ana Miranda num desses textos: “Sempre que abro uma torneira, sofro pelos netos dos meus netos”.
Sem água não haverá chuva e não haverá vida.
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